sábado, 20 de março de 2010

PROGRAMA DE FORMAÇÃO DE EDUCADORES AMBIENTAIS


A Comunidade Raimundo Irineu Serra como uma Unidade de Conservação Ambiental, enquadrada na categoria de APA (Área de Proteção Ambiental), foi contemplada com o Programa de Formação de Educadores Ambientais, executado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente – SEMEIA.

Luciano Pereira de Negreiro, biólogo da SEMEIA, trabalha junto à equipe de coordenadores do Programa de Formação de Educadores Ambientais. Ele explica que o Programa tem como foco promover o envolvimento comunitário, surgindo com práticas inovadoras centradas na preocupação de incrementar a co-responsabilidade das pessoas quanto à importância de termos cidadãos, cada vez mais comprometidas com a defesa da vida e uma relação harmoniosa com o meio ambiente.

Através da Proposta de Formação de Educadores do Ministério do Meio Ambiente - MMA e da Publicação do Edital de financiamento de Projetos do Fundo Nacional do Meio Ambiente – FNMA, o Programa foi instalado no município de Rio Branco, por meio da SEMEIA; baseia-se na formação de educadores ambientais e sua carga horária é de aproximadamente 600 horas.

O biólogo ressalta que o plano para educação ambiental é dividido em 10 módulos de 16 horas e é realizado nas comunidades em prol do coletivo, principalmente em APA. “O forte destes encontros entre equipe técnica de educadores ambientais e educandos, é o diálogo de saberes, a troca de experiências dentro de um processo de construção coletiva”, completa Luciano.

Segundo dados disponibilizados por Henrique Anastácio, da Divisão de Áreas Protegidas e Recursos Ambientais da SEMEIA, o programa acontece desde 2005 e até o atual momento já formou diretamente cento e onze (111) educadores ambientais populares e indiretamente mais de dez mil (10.000) pessoas em cinco (05) municípios do estado do Acre, incluindo três Regionais de Rio Branco.

Henrique salienta que o diferencial do Programa de Educadores Ambientais está em sua metodologia pedagógica; não trabalha com critérios de faixa-etária e nem hierarquização de saber, ou seja, qualquer pessoa inserida na comunidade pode participar, o critério é está aberto a novos conhecimentos para que o processo possa culminar em atividades práticas.

Na proposta pedagógica do programa, ele esclarece que existe um tutor, pessoa que acompanha, incentiva e mobiliza todo o processo; é uma referência para os participantes, um facilitador que orienta o grupo; no entanto, as atividades práticas são construídas coletivamente, por meio da comunidade que mobiliza, planeja, executa e avalia as ações a serem desenvolvidas.

Outro diferencial da metodologia é que os módulos são apresentados através de um cardápio e não de uma grade como na metodologia convencional, onde as grades curriculares não podem ser alteradas; nos cardápios têm-se opções de pratos diferenciados propostos pela comunidade. Os tutores apresentam o básico que é o feijão com arroz; são temas como educação e legislação ambiental, resíduos sólidos, entre outros assuntos base para um melhor desenvolvimento das ações propostas pela comunidade.

Henrique Anastácio destaca, ainda, que o Programa de Formação de Educadores Ambientais está dando certo nos municípios contemplados do Bujari, Sena Madureira, Senador Guiomad e Porto Acre. Já no município de Rio Branco, não aconteceu da mesma maneira, o motivo é o número de oferta de programas oferecidos no município, ocasionando choque de atividades.

A equipe técnica da SEMEIA realiza as oficinas ambientais, a execução do programa é de responsabilidade de seus parceiros, a exemplo do Instituto de Meio Ambiente do Acre – IMAC, Instituto Brasileiro de Meio Ambiente – IBAMA, Corpo de Bombeiros, Secretaria Estadual de Meio Ambiente – SEMA, Universidade Federal do Acre - UFAC, além de outros parceiros que soma um total de 32, envolvendo 93 participantes não remunerados.

Área de Proteção Ambiental Raimundo Irineu Serra – APARIS

A área Raimundo Irineu Serra é uma Unidade de Conservação, enquadrada na categoria de APA (Área de Proteção Ambiental). localizada no município de Rio Branco, submetida a regime especial de gestão ambiental, com área aproximadamente de 908,7420 há (novecentos e oito hectares, setenta e quatro ares e 20 centiares) com os limites descritos a partir da planta fornecida pelo Instituto de Meio Ambiente do Acre - IMAC.

A Unidade de Conservação foi criada com a assinatura do Decreto Municipal, de nº 500, datado em 07 de junho de 2005, por solicitação da comunidade da Vila Irineu Serra, no sentido de proteger e resguardar as tradições culturais do local, onde nasceu a Doutrina do Santo Daime, recebida e fundada pelo Maranhense Raimundo Irineu Serra.

O Decreto também protege e garante a cultura do plantio e o cultivo das espécies Bannisteriopsis caapi (jagube ou mariri) e Psychotria viridis (rainha ou chacrona); prioriza outras normas relacionadas à conservação e preservação do meio ambiente, do patrimônio natural local, no sentido de restaurar o eco-sistema natural das áreas degradadas ou ameaçadas, priorizando-se como áreas de conservação permanente.

Fonte de informação: Secretaria Municipal do Meio Ambiente – SEMEIA

Veja a Seguir - Textos Relacionados:

  • Raimundo Irineu Serra
  • A Origem da Vila Irineu Serra
  • Origem da Ayahuasca
  • A Cultura De Um Povo: Sua Identidade


Raimundo Irineu Serra

Raimundo Irineu Serra nasceu, em 15 de dezembro de 1892, em São Vicente de Ferrer, no Maranhão; chegou ao Acre em 1912, integrado ao movimento migratório de nordestinos que buscavam ganhar a vida na extração do látex (borracha).

Na década de 20, Raimundo Irineu morava no município acreano de Brasiléia; foi trabalhando dentro da floresta amazônica que fez contato com grupos indígenas brasileiros e peruanos, com eles conheceu a ayahuasca em um seringal próximo ao Peru. Logo em seguida aprendeu a fazer a bebida e utilizá-la em trabalhos espirituais junto a seus conterrâneos Antonio e André Costa.

Segundo depoimentos históricos, a iniciação de Raimundo Irineu nos mistérios da ayahuasca deu-se sob a orientação de Nossa Senhora da Conceição, que o agraciou com os fundamentos da doutrina do "Santo Daime" (nome, por ele, designado à ayahuasca); segundo ele a bebida se chamaria "Daime", explicava que dentro do Daime o homem poderia pedir tudo o que quisesse e seria atendido: "daime força, daime luz, daime tudo o que precisar"; recebeu o ritual dos trabalhos espirituais, bem como, os hinos, que em seu conjunto, formaram o hinário do Cruzeiro, sendo-lhe concedido o título de Chefe Império Juramidam.

Simbolicamente Juramidam significa: “Jura” é o Pai, Midam é o Filho, nome que as entidades divinas deram ao iniciador da Doutrina do Santo Daime. O Povo de Juramidam é a irmandade daimista renovada na mensagem do Cristo para os tempos atuais. Raimundo Irineu Serra faleceu em 06 de julho de 1971.


A Origem da Vila Irineu Serra

Na década de 30, Raimundo Irineu mudou-se para Rio Branco, onde morou inicialmente no antigo bairro conhecido como a Vila Ivonete. No ano de 1945, Mestre Irineu, como passou a ser conhecido, e seu amigo José das Neves compraram a posse de quatro estradas de seringa da colocação chamada Espalha.

Os homens que o acompanhavam fizeram derrubadas no local para limpar onde iam plantar e construir casas; com a madeira das derrubadas faziam carvão. Viviam do trabalho agrícola e dedicavam-se ao culto religioso do Santo Daime, construindo a fundamentação de uma nova manifestação religiosa nascida na Amazônia, estabelecendo à ritualística específica, os ornamentos, os hinários, bem como, as regulamentações.

Na década de 50 foi construída a primeira Sede para a realização dos trabalhos religiosos da comunidade. No final dessa mesma década, a Sede recém construída abrigou a primeira Escola denominada Escola Cruzeiro. Esse foi o maior investimento no local durante muitos anos.

Somente na década de 80 a escola teve sua Sede própria, construída em madeira e modificada o nome para Escola Mestre Raimundo Irineu Serra. Em 27 de setembro de 1990, foi inaugurada sua última instalação em alvenaria.

O local era distante do centro urbano e de difícil acesso. No final da década de 80 iniciou-se o processo de infra-estrutura, com abertura da estrada e o inicio da instalação da rede elétrica; momento em que foi denominado de Vila Raimundo Irineu Serra, por meio da criação da Associação de Moradores da Vila.

Na década de 90, após as comemorações do centenário de nascimento de Mestre Irineu, o local começou a ser habitado e a comunidade ganhou transporte público e rede telefônica. Desde 1986, a localidade ficou estabelecida como zona urbana, embora ainda hoje conserve traços predominantemente rurais.

A relação que a comunidade tem com o meio ambiente foi um marco importante para a área ser decretada como Área de Proteção Ambiental – APA do município de Rio Branco, a partir do ano de 2005, com o objetivo de preservar os recursos naturais, também passou a ser reconhecida como Patrimônio Material e Imaterial do município, estado e nação.

No local também foram construídas várias edificações por Mestre Irineu, a exemplo da primeira Sede e sua antiga Residência. O Túmulo, onde está enterrado Raimundo Irineu Serra, foi decretado como um Sítio Histórico Cultural pelo município de Rio Branco. Esses reconhecimentos da importância cultural cultivada pelos moradores da Vila Irineu Serra só se deu pelo Poder Público no ano de 2006.


Origem da Ayahuasca

A Ayahuasca é uma bebida de origem indígena, preparada a partir da união de duas espécies vegetais nativas da floresta amazônica: o cipó: (Banisteriopsis caapi) conhecido como Jagube ou Mariri; e a folha (Psichotria viridis) conhecida como Chacrona ou Rainha, que resulta de uma substância com o poder de elevar as esferas espirituais do ser humano; uma das formas nas quais os homens penetram no mundo dos espíritos e na profundidade de seu próprio ser.

A Origem da Ayahuasca remonta a pré-história; porém não se sabe precisamente quando a prática da bebida teve inicio. Segundo dados de pesquisadores, há evidências arqueológicas através de potes e desenhos que levam a crer que o uso de plantas de poder e contato com o mundo divino ocorrem desde 2000 a.C.

Embora na America do Sul haja o consumo da ayahuasca por diversas tribos indígenas, foi somente no Brasil, em especial do estado do Acre que se desenvolveu o uso religioso por comunidades não indígenas. A partir dessas comunidades, o uso ritualístico da bebida vem entrando em contato com diversas culturas e se expandindo no Brasil e no mundo.

No Brasil, a Ayahuasca ficou denominada religiosamente como Santo Daime e Vegetal, dando origem a três vertentes de seguimentos espirituais: O Império Juramidam, a Barquinha e a União do Vegetal – UDV.

Por: Aldemira Margarido

Fonte de Pesquisa:

  • LIMA, Emanuel Gomes Correia. O Uso Ritual da Ayahuasca: da Floresta Amazônica aos centros urbanos. 2004. Monografia (Conclusão do Curso de Graduação em Geografia) Universidade de Brasília.
  • Acervo de Valdilene Serra


A Cultura De Um Povo: Sua Identidade

O homem não se reduz à sua dimensão material, física. Do seu relacionamento com o meio-ambiente, com outras pessoas, do fato de falar uma mesma língua, de acreditar e construir uma mesma história, de crer nas mesmas crenças, tradições, de possuir os mesmos costumes, hábitos alimentares, vestimentas e sonhos, nascem sua identidade cultural: aquilo que o faz sentir-se parte de um povo, de uma comunidade, de uma nação e por ela responsável; é a identidade o sentimento que faz o homem se integrar, localizar-se o tempo e no espaço, estimar a terra e a comunidade onde vive, ter gosto por ser quem é.

O processo de formação do território e da população do Acre está profundamente relacionado à floresta, de onde se extraiu, além da riqueza que edificou este Estado, sua identidade cultural através de uma atividade econômica (o extrativismo) que conformou seu modo de vida, seus costumes, sua alimentação, habitação e também deu origem a uma forma singular de expressão religiosa, ao retratar, na sua fé, o meio de onde retirou seu sustento e vida: a ayahuasca.

A ayahuasca, existente na Amazônia desde tempos pré-colombianos, foi incorporada à cultura do acreano enquanto manifestação de uma fé que liga o homem, o meio-ambiente e a concepção de Divindade, expressando, nesta religiosidade, a relação do acreano com sua história e com a floresta onde se desenvolveu.

Ayahuasca, bebida utilizada em rituais religiosos indígenas desde tempos imemoriais, passou a ser utilizada, com o nome de Daime, desde 1920, por Raimundo Irineu Serra em rituais urbanos. Inicialmente no município de Brasiléia, Raimundo Irineu Serra depois se mudou para Rio Branco, vindo a se instalar em definitivo na região conhecida como Alto da Santa Cruz, posteriormente denominada Alto Santo e atualmente conhecida como Vila Raimundo Irineu Serra.

Raimundo Irineu Serra, fundador da religião conhecida como Santo Daime, foi por mais de 30 anos, na cidade de Rio Branco, personagem importante de seu tempo, prestigiado pelas Autoridades de sua época como é revelado nas fotos que ilustram esta exposição, onde se vê governadores, prefeitos, deputados federais na sua companhia, bem indicando o prestígio de sua pessoa e o lugar especial que esta religiosidade ocupava e ocupa junto à sociedade acreana.

Personalidades históricas como Senador Guiomard dos Santos, Cel. Fontenele de Castro, Geraldo Mesquita, Wildy Viana, Governador Valério Caldas Magalhães tinham amizade e visitavam com regularidade o Alto Santo, não só na busca do contato com Raimundo Irineu Serra, mas em respeito à religião adotada por tantos e tantos acreanos que ali freqüenta(va)m.

Aquela região, Alto Santo, tornou-se assim para os acreanos um lugar de devoção e fé, desenvolvendo-se no seu entorno um pequeno bairro formado por pessoas que cultivam a doutrina deixada por Raimundo Irineu Serra. Aquele lugar, antiga colocação de seringal, é hoje alvo de processo acelerado de ocupação desordenada, já possuindo motéis, bares, pequenas marcenarias etc.

Preservar a região do Alto Santo é preservar, além da encosta do igarapé São Francisco, o substrato material responsável pela mais extraordinária e típica manifestação cultural da Amazônia; é manter as condições de existência e pujança de uma religião que toca na alma do acreano e que compõe, em grande relevo, a identidade de um povo que fez da floresta a sua economia, história, alimentação, riqueza e sua religião.

Texto inserido no documento de “Exposição de Motivos para Criação de Proteção Ambiental Raimundo Irineu Serra”; Acervo da Assessoria de Comunicação da Secretaria Municipal do Meio Ambiente – SEMEIA.

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